segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sinais do Homem Espiritual - A. W. Tozer


O conceito de espiritualidade varia entre os diversos grupos cristãos. Em alguns círculos, a pessoa que fala incessantemente de religião é julgada como sendo muito espiritual. Outros aceitam a exuberância ruidosa como um sinal de espiritualidade, e em algumas igrejas, o homem que ora em primeiro lugar, por mais tempo e mais alto consegue uma reputação de ser o mais espiritual na assembléia.

Um testemunho vigoroso, orações freqüentes e louvor em voz alta podem entrosar-se perfeitamente com a espiritualidade, mas é importante entendermos que em si mesmos eles não constituem nem provam a presença da mesma. A verdadeira espiritualidade manifesta-se em certos desejos dominantes. Eles são desejos sempre presentes, fixos, suficientemente poderosos para dominar e controlar a vida da pessoa. Para facilitar, vou mencioná-los, embora não me esforce para decidir sua ordem de importância.


1. Primeiro, o desejo de ser santo em lugar de feliz. A busca da felicidade, tão difundida entre os cristãos que professam uma santidade superior e prova suficiente de que tal santidade não se acha presente. O homem verdadeiramente espiritual sabe que Deus dará abundância de alegria no momento em que possamos recebê-la sem prejudicar nossa alma, mas não exige obtê-la imediatamente. John Wesley falou a respeito de uma das primeiras sociedades metodistas da qual duvidava terem seus membros sido aperfeiçoados em amor, pois iam à igreja para apreciar a religião em lugar de aprender como tornar-se santos.

2. O indivíduo pode ser considerado espiritual quando quer que a honra de Deus avance por meio de sua vida, mesmo que isso signifique que ele mesmo tenha de sofrer desonra ou perda temporárias. Um homem assim ora: "Santificado seja o teu nome", e acrescenta baixinho: "Qualquer seja o custo para mim, Senhor". Ele vive para honrar a Deus, através de uma espécie de reflexo espiritual. Cada escolha envolvendo a glória de Deus, para ele já está feita antes de apresentar-se. Não é necessário que debata o assunto em seu íntimo, pois nada há a discutir. A glória de Deus é necessária para ele; ele a aspira como alguém sufocando-se aspira o ar.

3. O homem espiritual quer carregar a sua cruz. Muitos cristãos aceitam a adversidade ou a tribulação com um suspiro e as chamam de sua cruz, esquecendo de que tais coisas podem acontecer tanto a santos como a pecadores. A cruz é aquela adversidade extra que surge como resultado de nossa obediência a Cristo. Esta cruz não é forçada sobre nós; nós voluntariamente a tomamos com pleno conhe¬cimento das conseqüências. Nós decidimos obedecer a Cristo e fazendo essa escolha, decidimos carregar a cruz. Carregar a cruz significa ligar-se à Pessoa de Cristo, ser fiel à soberania de Cristo e obediente aos seus mandamentos. O indivíduo espiritual é aquele que manifesta essas características.

4. O cristão espiritual é também aquele que tudo observa sob o ponto de vista de Deus. A capacidade de pesar tudo na balança divina e dar-lhes o mesmo valor dado por Deus, é o sinal de uma vida cheia do Espírito. Deus olha para tudo e através de tudo ao mesmo tempo. Seu olhar não repousa sobre a superfície mas penetra até o verdadeiro significado das coisas. O cristão carnal olha para um objeto ou uma situação, mas pelo fato de não ver através dela fica entusiasmado ou deprimido pelo que vê. O homem espiritual tem capacidade para ver através das coisas como Deus vê e pensar nelas como Ele pensa. Ele insiste em ver tudo como Deus vê, mesmo que isso o hu¬milhe e exponha a sua ignorância até o extremo de fazê-lo sofrer.

5. Outro desejo do homem espiritual é morrer retamente em lugar de viver no erro. Um sinal seguro do homem de Deus amadurecido é de sua despreocupação com a vida. O cristão terreno, consciente do corpo, olha para a morte com terror no coração; mas à medida que continua vivendo no Espírito torna-se cada vez mais indiferente ao número de anos que vai viver aqui embaixo, e ao mesmo tempo cuida cada vez mais do modo como vive enquanto está aqui. Não irá comprar alguns dias extra de vida ao custo da transigência ou fracasso. Quer acima de tudo ser reto, e fica feliz em deixar que Deus decida quanto tempo deve viver. Ele sabe que pode morrer agora que está em Cristo, mas sabe que não pode agir erradamente, e este conhecimento torna-se um giroscópio que dá esta¬bilidade aos seus pensamentos e seus atos.

6. O desejo de ver outros progredirem com sua ajuda é outro sinal do homem que possui espiritualidade. Ele quer ver outros cristãos acima de si e fica feliz quando estes são promovidos e ele negligenciado. Não existe inveja em seu coração; quando seus irmãos são honrados fica satisfeito, por ser essa a vontade de Deus e essa vontade é seu céu na terra. O que é agradável a Deus lhe dá também prazer, e se for do agrado de Deus exaltar outrem acima dele, satisfaz-se com isso.

7. O homem espiritual faz no geral juízos eternos e não temporais. Pela fé supera o poder de atração da terra e o fluxo do tempo e aprende a pensar e sentir como alguém que já deixou o mundo e foi juntar-se à imensa companhia dos anjos e à assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, Um homem assim preferiria ser útil e não famoso, servir em lugar de ser servido. Tudo isto se realiza pela operação do Espírito Santo que ne!e habita. Homem algum pode ser espiritual por si mesmo. Apenas o Espírito da liberdade pode tornar o homem espiritual.
Fonte: Livro: Esse cristão incrível

Erótico versus Espiritual - A. W. Tozer




E este texto foi escrito há uns 50 anos...

A época em que vivemos poderá ficar conhecida como a Idade do Erotismo. O amor sexual se tornou uma forma de culto. Entre os homens civilizados, Eros tem mais adoradores do que qualquer outro deus. Para milhões, o erótico tem substituído completamente o espiritual.

Os fatores

Não é difícil determinar como o mundo caiu nesse estado. Fatores contribuintes são as emissoras de rádio e os aparelhos de som, que podem disseminar uma música de amor por todo um país em poucos dias; o cinema e a televisão, que proporcionam a toda uma população a oportunidade de banquetear-se com mulheres sensuais e jovens soberbos unidos em abraços apaixonados (nas salas de visitas de lares “cristãos”, aos olhos de crianças inocentes!); menos horas de trabalho e a multiplicação de máquinas automáticas que resultam no aumento do lazer para todos.

Juntemos a tudo isso dezenas de campanhas de propaganda concebidas inteligentemente, que transformam o sexo em isca não muito bem disfarçada, a fim de atrair compradores para quase todos os produtos imagináveis; os escritores infames que consagraram suas vidas à obra de tornar conhecidas as levianas e falsas nulidades, utilizando personagens que têm carinha de anjo e moral de prostituta; novelistas sem consciência que alcançam fama duvidosa e enriquecem à custa da perniciosa ocupação de drenar do esgoto de sua alma podridões literárias que entretêm as massas. Tudo isso nos mostra como Eros conseguiu triunfar sobre o mundo civilizado.

Se esse deus não importunasse os crentes, não haveria razão para inquietar-me com o seu culto. Um dia, toda a sua fétida sujeira ruirá sobre si mesma, tornando-se um excelente combustível para o fogo do inferno, uma justa recompensa, fazendo-nos ter compaixão daqueles que forem engolidos na sua trágica ruína. Se as coisas fossem diferentes do que realmente são, as lágrimas e o silêncio seriam melhores do que as palavras. Mas o culto de Eros está afetando seriamente a igreja. A límpida religião de Cristo, que flui do coração de Deus como um rio cristalino, está sendo poluída pelas águas sujas que escorrem do altar da abominação que se vê em todos os outeiros e debaixo de todas as árvores, em todas as parte de nosso país.

Os crentes estão sendo influenciados

A influência desse espírito erótico está sendo percebida em quase todos os círculos evangélicos. Grande parte da música cantada em certos tipos de reuniões transpira mais romance do que a voz do Espírito Santo. Cânticos e músicas foram escritos para despertar a luxúria. Cristo é tratado com uma familiaridade que revela ignorância completa a respeito do seu caráter. O que predomina não é mais a reverente intimidade do santo que adora, e sim a impudica familiaridade do amante carnal.

A ficção religiosa tem utilizado o sexo para criar interesse em seus leitores, servindo-se da aparente desculpa de que, entrelaçando o romance erótico com a religião em uma ficção, o leitor habitual, que não gasta tempo com um livro puramente religioso, desejará ler a ficção e, assim, conhecerá o evangelho. Não levando em conta o fato de que os mais modernos romancistas religiosos são apenas amadores, incapazes de escrever pelo menos uma linha de literatura realmente boa, o conceito de romances espirituais está errado.

Os impulsos libidinosos e o doce e profundo estímulo do Espírito Santo são diametralmente opostos. A noção de que Eros pode servir como um auxilio ao Senhor da glória é ultrajante. Os filmes “cristãos” que procuram atrair o público com cenas amorosas em sua propaganda são completamente contrários à religião de Cristo. Somente os que se acham espiritualmente cegos podem ser enganados.

A moda da beleza física e de personalidades brilhantes nas produções religiosas é uma manifestação da influência do sentimento romântico na igreja. O balanço rítmico, o sorriso inalterável e a voz demasiadamente alegre enganam o religioso mundano. Ele aprendeu a sua técnica na televisão, mas não o suficiente para obter sucesso no campo profissional; por isso, ele traz sua produção ineficiente para o lugar santo, mascateando-a aos cristãos débeis e mal nutridos, que buscam algo para divertirem-se, enquanto fazem parte da maioria religiosa popular.

Tempo para falar

Se a minha linguagem parece severa, lembrem-se de que não está sendo dirigida a ninguém pessoalmente. Sinto grande compaixão pelo mundo dos homens perdidos e desejo que todos venham ao arrependimento. Pelos crentes cujas vigorosas mas errôneas lideranças têm desviado a igreja moderna do altar de Jeová para o altar do Erro, sinto amor e compaixão. Quero ser o último a injuriá-los e o primeiro a per- doá-los, lembrando-me dos meus pecados passados e da minha necessidade de misericórdia, bem como de minha própria fraqueza e inclinação natural para o pecado e o erro. A jumenta de Balaão foi usada por Deus para repreender um profeta. Concluímos disto que Deus não requer perfeição no instrumento que usa pa-ra admoestar e exortar seu povo.

Quando o rebanho de Deus está em perigo, o pastor não deve contemplar as estrelas e meditar sobre temas “inspirativos”. Está moralmente obrigado a pegar suas armas e a correr para defendê-lo. Quando as circunstâncias exigem, o amor tem de usar a espada, embora tenha o desejo de enfaixar o coração quebrantado e cuidar do ferido. Chegou o tempo de o profeta ser ouvido novamente. Durante as últimas décadas, a timidez disfarçada em humildade tem-se mantido no seu canto, enquanto a qualidade espiritual da cristandade evangélica tem se tornado pior a cada ano que passa. Por quanto tempo ainda, Senhor? Por quanto tempo?

sábado, 7 de julho de 2012

A Cruz é Algo Radical - A. W. Tozer





A cruz de Cristo é a coisa mais revolucionária que já apareceu entre os homens.

A cruz dos velhos tempos Romanos não conhecia acordo; ela nunca fez concessões. Ela venceu todas as suas disputas matando o seu oponente e silenciando- o de uma vez para sempre. Ela não poupou Cristo, mas o matou assim como os outros. Ele estava vivo quando O penduraram naquela cruz e completamente morto quando O tiraram dela seis horas mais tarde. Isso era a cruz, a primeira vez que apareceu na história Cristã.

Depois que Cristo foi levantado da morte os apóstolos saíram para pregar Sua mensagem, e aquilo que pregavam era a cruz. Onde quer que eles fossem pelo mundo afora carregavam a cruz e o mesmo poder revolucionário ia com eles. A mensagem radical da cruz transformou Saulo de Tarso e o mudou de um perseguidor de Cristãos para um crente gentil e um apóstolo da fé. O poder da cruz transformou homens maus em bons. Ela livrou a longa escravidão do paganismo e alterou completamente toda a perspectiva moral e mental do mundo Ocidental. Tudo isto ela fez e continua a fazer enquanto for permitido permanecer sendo o que era originalmente, uma cruz.

Seu poder se foi quando foi mudada de algo de morte para algo de belo. Quando os homens fizeram dela um símbolo, pendurando- a aos seus pescoços como um ornamento ou fizeram seu esboço diante das suas faces como um sinal mágico para repelir o maligno, então ela se tornou na melhor das hipóteses um fraco emblema, e na pior das hipóteses um fetiche positivo. Como tal ela é venerada hoje em dia por milhões que não sabem absolutamente nada sobre o seu poder.

A cruz alcança seu fim pela destruição de um padrão estabelecido, a vítima, e cria um outro padrão, seu próprio. Assim, ela tem sempre seu estilo. Ela vence através da derrota do seu oponente e imposição da sua vontade sobre ele. Ela sempre domina. Ela nunca se compromete, nunca negocia nem concede, nunca renuncia um ponto por motivo de paz. Ela não se importa com a paz; ela se importa somente em acabar com sua oposição o mais rápido possível.

Com perfeito conhecimento de tudo isto Cristo disse, “Se alguém quer vir após mim, negue- se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga- me” (Mt 16:24). Assim a cruz não somente provoca um fim à vida de Cristo, ela também dá fim à primeira vida, a velha vida, de cada um dos Seus verdadeiros seguidores. Ela destrói o velho padrão, o padrão de Adão, na vida do crente e o conduz a um fim. Então o Deus que ressuscitou Cristo da morte ressuscita o crente e se inicia uma nova vida.

Isto, e nada menos, é Cristianismo verdadeiro, entretanto não podemos deixar de reconhecer a divergência crucial deste conceito daquele defendido pelos membros evangélico de hoje. Porém não ousamos qualificar a nossa posição. A cruz permanece bem acima das opiniões dos homens e para aquela cruz todas as opiniões devem finalmente ir para julgamento. Uma liderança superficial e mundana modificaria a cruz para agradar os entretenimentos loucos dos religiosos que terão a sua diversão mesmo dentro do santuário; mas agir assim é procurar desastre espiritual e se expor ao perigo da ira do Cordeiro transformado em Leão.

Devemos fazer algo com relação à cruz, e somente uma de duas coisas podemos fazer fugir dela ou morrer nela. Se formos tão imprudentes para fugir devemos por este ato pôr de lado a fé de nossos pais e fazer do Cristianismo alguma outra coisa exceto o que ele é. Então teremos deixado somente a vazia linguagem da salvação; o poder se apartará com nosso apartamento da verdadeira cruz.

Se formos sábios faremos o que Jesus fez; enfrentaremos a cruz e desprezaremos a vergonha pela alegria que está colocada diante de nós. Fazer isto é entregar todos os padrões das nossas vidas para serem destruídos e reconstruídos no poder de uma vida eterna. Descobriremos que isto é mais do que poesia, mais do que doce melodia e sentimento nobre. A cruz cortará em nossa vida onde ela fere mais, sem poupar nem a nós nem nossas reputações cuidadosamente cultivadas. Ela vai nos derrotar e levar nossas vidas egoístas a um fim. Somente então poderemos nos levantar em plenitude de vida para estabelecer um padrão de vida completamente novo, livre e repleto de boas obras.

A mudança de atitude em relação a cruz que vemos na ortodoxia moderna não prova que Deus tenha mudado, nem que Cristo tenha facilitado na Sua exigência de que carreguemos a cruz; antes significa que a Cristandade atual se afastou dos padrões do Novo Testamento. Até agora temos mudado tanto que isto pode necessitar nada menos do que uma nova reforma para restaurar a cruz para o seu lugar correto na teologia e vida da Igreja.