terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Dízimo um ato de obediência a palavra de DEUS




É verdade que Cristo é “o fim da lei para a justificação de todo aquele que crê” (Rm.10:4). Isso poucos discutem, pois a Escritura é nítida em afirmar que “não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm.6:14), que “se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl.5:18), porque Cristo “envelheceu a primeira aliança” (Hb.8:8), e “o que foi tornado velho está perto de se acabar” (Hb.8:8). Jesus Cristo, ao morrer na cruz, “aboliu em sua carne a lei dos mandamentos expressa na forma de ordenanças” (Ef.2:14,15), para que sejamos “ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co.3:6).

Porém, se de um lado a lei foi cumprida em Cristo, por outro lado é evidente que existem coisas da antiga aliança que passaram também para a nova aliança, sem serem abolidas. Se não fosse assim, jamais poderíamos ter um só Deus, amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, não cobiçarmos a mulher do próximo, não adulterarmos, não roubarmos, não fazermos imagens de escultura, sermos santos como Ele é santo... pois todas essas coisas estavam na lei, e nem por isso deixamos de considerar princípios verdadeiros e legítimos, vigentes até os nossos dias.

Então, a questão que fica é: O dízimo “morreu” na antiga aliança, ou passou também para a nova? Sabemos que alguns “princípios fracos e elementares” (Gl.4:9) morreram, tais como as regras relativas a “comer e beber, ou os dias de festa, ou lua nova, ou sábados, que eram sombras de coisas futuras, mas a realidade é Cristo” (Cl.2:16,17). Mas certos princípios permaneceram também para a nova aliança. O Senhor Jesus descreveu alguns destes princípios em Mateus 23:23, que analisaremos a seguir.


PRINCÍPIOS QUE PERMANECEM NA NOVA ALIANÇA

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas” (Mateus 23:23)

Note que Jesus aqui lista para os fariseus alguns destes princípios que permanecem com Cristo na nova aliança. Ele cita a justiça, a misericórdia e a fé como três destes princípios. Porém, note uma coisa muito importante que ele afirma na sequencia: “...estas coisas devíeis fazer, sem omitir aquelas” (v.23). Sem omitir aquelas! Qual era essas coisas que eles não deveriam omitir? O começo do verso afirma claramente sobre isso: o dízimo.

Em outras palavras, Jesus estava dizendo que os fariseus deveriam praticar os maiores princípios que permaneceriam na nova aliança (como a justiça, a misericórdia e a fé), mas não omitir os outros princípios menores (como o dízimo). É evidente que Jesus está colocando a justiça, misericórdia e fé acima do dízimo, mas ele também diz que não podemos omitir o dízimo, assim como não devemos omitir aqueles outros três preceitos.

Você poderia argumentar: “Mas eu pratico os preceitos maiores – a justiça, a misericórdia e a fé – e deixo de praticar os menores – como o dízimo. Já que eu pratico os maiores e deixo os menores de lado, então eu acho que estou bem assim”! Não, infelizmente não está. Isso porque o Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que não devemos apenas ser fieis no muito, mas também no pouco:

“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lucas 16:10)

Isso significa que se você é infiel no princípio menor que Cristo abordou em Mateus 23:23 (o dízimo), você não vai conseguir ser fiel nos princípios maiores (a justiça, a misericórdia e o amor). Afinal, se nem sequer no pouco (princípios menores na nova aliança) você é fiel, como irá ser no muito (i.e, nos preceitos mais importantes)? Não tem jeito. Jesus diz que se você é infiel ou desonesto no pouco, será infiel e desonesto no muito também.

Ele prova a nossa fé com uma quantia tão pequena como é o dízimo (10%), pois se não formos capaz nem sequer de darmos 10% de nossas finanças para Deus, como seremos capaz de rendermos 100% em nossa justiça, misericórdia e fé nEle?

Alguém poderia argumentar também: “Calma aí, Lucas. Você está vendo que Jesus estava falando com os fariseus neste versículo. Então essa passagem não se aplica a mim e a você”! Infelizmente existem pessoas que chegam ao cúmulo de argumentarem desta maneira! O problema em tal raciocínio é simplesmente que, se fosse assim, deveríamos corrigir (mutilar) a Bíblia inteira, pois este jamais foi um critério de exegese aplicável.

Por exemplo, os maiores ensinamentos registrados na Bíblia se encontram no Sermão do Monte que Cristo pregou, em Mateus 5-7. Porém, se analisarmos cuidadosamente, veremos que ele estava dizendo a uma multidão de judeus. Quer dizer, então, que o Sermão do Monte só valia para os judeus do século I, mas não vale para gentios (como eu e você) do século atual? É claro que não. A verdade é que o princípio que se aplicava a eles é aplicável a nós também. Jesus não estava pregando uma pegadinha nos fariseus, mas ensinamendo algo válido também a todos nós.

Pense no que essa intepretação acarretaria de “bom” para a doutrina cristã. Usando a mesma lógica de que Jesus falou aos fariseus então só eles devem dar o dízimo, nós deveríamos presumir também que o que Paulo escreveu aos Coríntios só vale para os coríntios, que o que Paulo escreveu aos Gálatas só vale aos Gálatas, que o que Paulo escreveu aos Romanos só vale aos romanos, que o autor de Hebreus não tinha nenhum apreço por aqueles que não eram hebreus e que pelo fato de Pedro ter escrito “aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia” (1Pe.1:1), significa então que se eu não sou destas províncias da Ásia, a mensagem não se aplica para mim!

Perceberam no que essa interpretação nos levaria a crer? Isso mesmo, que nada (absolutamente nada mesmo) valeria para os dias de hoje! É óbvio que isso não é um exemplo e exegese, mas sim de uma interpretação completamente tendenciosa, a tal ponto que eles não aplicam este mesmo critério nas outras ocasiões, mas apenas naquela específica do dízimo, só porque eles não querem dar o dízimo!

Aqueles que insistem que o dízimo “ficou no passado” à luz de Mt.23:23, terão por uma questão de coerência que dizer que a justiça, a misericórdia e a fé também “ficaram no passado”, já que elas são mencionadas exatamente no mesmo contexto para também não serem omitidas! À luz de tudo isso, fica claro que Jesus não estava querendo dizer que não é necessário, mas sim que ele “não deve ser omitido” (Mt.23:23; Lc.11:42).


A TIPOLOGIA ENTRE JESUS E MELQUISEDEQUE

Vale ressaltar que esta não foi a única situação em que vemos o dízimo presente no contexto da nova aliança. O autor de Hebreus traçou uma clara analogia entre o dízimo na antiga aliança e o dízimo na nova aliança, mostrando que o que os israelitas antes davam aos levitas, nós devemos dar a Cristo:

Hebreus 7
1 Esse Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou;
2 e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa "rei de justiça"; depois, "rei de Salém" quer dizer "rei de paz".
3 Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre.
4 Considerem a grandeza desse homem: até mesmo o patriarca Abraão lhe deu o dízimo dos despojos!
5 A lei requer dos sacerdotes dentre os descendentes de Levi que recebam o dízimo do povo, isto é, dos seus irmãos, embora estes sejam descendentes de Abraão.
6 Este homem, porém, que não pertencia à linhagem de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas.
7 Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior.
8 No primeiro caso, quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso é aquele de quem se declara que vive.
9 Pode-se até dizer que Levi, que recebe os dízimos, entregou-os por meio de Abraão,
10 pois, quando Melquisedeque se encontrou com Abraão, Levi ainda estava no corpo do seu antepassado.
11 Se fosse possível alcançar a perfeição por meio do sacerdócio levítico (pois em sua vigência o povo recebeu a lei), por que haveria ainda necessidade de se levantar outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque e não de Arão?
12 Pois quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei.

Vamos analisar o contexto desta passagem mais cuidadosamente. Em primeiro lugar, o escritor de Hebreus faz uma analogia (uma tipologia) entre Cristo e Melquisedeque, que era “semelhante ao Filho de Deus... permanece sacerdote para sempre” (v.3). Então, ele afirma que Abraão lhe deu o dízimo (v.4), antes mesmo que os levitas recebessem o dízimo de acordo com a lei (vs.5,6). Então, ele afirma:

“No primeiro caso, quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso é aquele de quem se declara que vive” (v.8)

Em outras palavras, no primeiro caso [na antiga aliança] quem recebia o dízimo eram homens mortais [os levitas], e hoje quem recebe os dízimos é aquele de quem se declara que vive [Jesus Cristo]. Jesus não recebe os dízimos através do sacerdócio levítico, mas através do sacerdócio de Melquisedeque. O autor explica que houve uma “mudança de sacerdócio” (v.12). O dízimo que antes era dado aos levitas, hoje damos a Cristo (v.8). Como é que isso acontece? Como é que Cristo pode receber hoje os nossos dízimos?

Ora, através de seu Corpo, que é a Igreja. A Igreja é o “Corpo de Cristo” (1Co.12:27) na terra. Nós herdamos o nosso nome – “cristãos” – de Cristo. Somos os “embaixadores de Cristo” (2Co.5:20) na terra e, assim como o antigo templo de Jerusalém precisava de mantimento, os templos atuais também necessitam dos dízimos, “para que haja mantimento na minha casa, diz o Senhor dos exércitos” (Ml.3:10).

Cristo recebe os dízimos através da Sua Igreja, que é o Seu Corpo. Da mesma forma que os israelitas contribuíam com pelo menos 10% de sua renda para o mantimento da casa de Deus, devemos contribuir com pelo menos 10% de nossa renda para que a Igreja avance, cresça, multiplique-se e se estabeleça sobre a terra.

À luz do que vimos acima (lembre-se de que eu fiz questão de abordar apenas passagens do NT, para não deixar margens àqueles que dizem que o NT não apoia o dízimo) fica muito claro que Jesus, cujo sacerdócio é permanente, deve receber os dízimos através da Sua Igreja. Ele afirmou aos fariseus (e o ensino vale também a nós) que o dízimo não pode ser omitido.

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